Família · Para as mamães · Saúde

Violência Doméstica – Post #3

Olá meus queridos!!!

Eis me aqui para mais um relato da semana.

Esse depoimento me tocou bastante!!! Quantos filhos vivem isso? Vivem sob tirania dos pais, os quais deveriam educar e sim, mas com amor? Quantos filhos são espancados até à morte, por monstros em pele de pais? Triste realidade…

hqdefault

Meu pai sempre foi um homem machista, autoritário, desses que se irritam demais quando sentem que tiveram a autoridade questionada. E ele sentia isso de mim o tempo todo. Quando eu era criança, eu sentia medo dele, embora ele nunca tivesse chegado a me bater (não quando eu era criança). Mas, na minha adolescência, isso mudou. Então comecei a confrontá-lo e as brigas eram constantes. 

 Ele gritava muito comigo, me xingava de nomes horríveis e constantemente tirava o cinto e batia em algum objeto próximo, pra fazer barulho e me aterrorizar. Em 2009, ele me deu um tapa na cara. O meu namorado da época (hoje ex), por impulso, entrou na minha frente e meu pai o ameaçou. Após o ocorrido, porém, meu pai me pediu desculpa, chorou, jurou que nunca mais me agrediria, que estava se sentindo péssimo. Em abril de 2010, porém, fui agredida fisicamente por ele por causa de uma roupa que eu estava usando.

 Eu estava me preparando para ir a uma festa à fantasia com o meu irmão. Eu estava fantasiada de Lady Gaga, vestia um collant, um corset, meia arrastão, sapatos de salto, além da peruca loira.  Meu pai se irritou, disse que eu estava parecendo uma puta e me mandou trocar de roupa. É claro que não troquei. Ele começou a falar muitas besteiras. Chegou a dizer pro meu irmão: “se alguém passar a mão na bunda dela lá, não defenda, porque ela tá pedindo isso, vestida desse jeito”. Quer dizer, se eu tivesse sido estuprada naquele dia, o estuprador seria aplaudido pelo meu  próprio pai. 

 Eu não cedia às humilhações dele, e foi isso o que o irritou. Eu não ouvia as asneiras calada. Eu devolvia. Não aceitei ser desrespeitada. Até que ele ficou bem irritado e me bateu. Mas dessa vez, o tapa na cara virou dois tapas, depois 3, 4, 5… E os tapas viraram murros. Ele me jogou no chão e começou a me esmurrar. Não só no rosto, mas no corpo todo. Na hora, eu não senti absolutamente dor alguma. Acho que a adrenalina já estava tão alta e eu estava com tanta raiva, tanto ódio dele que nem senti. Cada vez que ele me esmurrava, eu gritava coisas que sabia que o feriam. Isso foi um tiro no pé, eu sei, porque embora eu o ferisse, isso fazia com que a força dos golpes aumentassem. Precisou que minha mãe e meu irmão interferissem para que ele parasse de me bater. Depois de tudo isso, é claro que não fui à festa.

A dor emocional veio logo depois que tudo isso cessou, mas a dor física só apareceu no dia seguinte. Olhei-me no espelho e vi: as partes brancas dos meus dois olhos haviam ficado completamente vermelhas; eu tinha hematomas no rosto todo (ao redor dos olhos, no queixo, nas bochechas) e nos meus ombros; minhas costelas doíam. Chorei muito. Abracei minha mãe e chorei. Ela, coitada, chorou junto comigo e me pedia desculpas por ter escolhido um homem tão violento para ser meu pai. 

 E ele? Claro que agiu como todo agressor: me olhou, fez cara de arrependimento, providenciou lágrimas de crocodilo e pediu perdão, perdão, perdão, mas “você mereceu, filha, você desafiou minha autoridade de homem da casa, você me desobedeceu”. Tudo que eu sentia era nojo dele. Não consegui denunciá-lo. Tinha medo que ele punisse minha mãe e meus irmãos para me atingir, já que eles dependem financeiramente do meu pai. 

Fiquei com medo de bagunçar mais ainda a cabeça do meu irmãozinho, que já tinha tido graves problemas de fundo emocional (como convulsão e desmaios) por causa da agressividade do meu pai. Engoli a agressão. Fui ao médico para checar se não havia nada quebrado e fui a um oftalmologista para checar se estava tudo bem com os meus olhos depois das pancadas. Esse oftalmologista era amigo do meu pai. Ele ficou horrorizado com aquilo tudo.

Depois de muitos dias sem falar com meu pai, evitando sair do meu quarto (eu não ia pra faculdade por vergonha de como estava o meu rosto), ele forçou uma conversa. E aí, como eu já tinha apanhado mesmo, não tive medo. Gritei. Falei que ele era um doente, um psicopata, que meu maior desgosto era carregar o nome dele. Falei ainda que eu só voltaria a falar com ele se ele fizesse terapia e tomasse remédios, porque ele era um doente psiquiátrico que deveria ser privado da convivência com as pessoas normais, que ele era uma ameaça. 
Dessa vez, porém, houve uma reação diferente dele: ele ouviu tudo. Ouviu e concordou. No dia seguinte, ele procurou terapia, e se trata até hoje. Não sei se foi meu irmão, minha mãe ou o oftalmologista amigo dele, ou todos os três que conversaram com ele, mas ele ouviu. Ele melhorou muito e é visível o quanto ele tenta melhorar ainda mais. Mas eu ainda não consegui superar a agressão. Desde então, não consigo abraçá-lo. Só o abraço em ocasiões como dia dos pais, natal ou o aniversário dele, e ainda assim,é um abraço mecânico, frio, rápido, que eu torço pra acabar logo, que dura um segundo, mas que me parece durar uma eternidade. 

Desde então, não assino o sobrenome dele. Só o da minha mãe. Apresento-me sempre só com o sobrenome da minha mãe e quando me chamam apenas pelo último nome, eu digo claramente: “não gosto, me chame somente pelo meu segundo nome ou pelos dois”. Sei que isso não me faz menos filha dele, mas é uma forma que eu tenho de me sentir mais livre. 

Denuciem!!!!

Deixe um comentário